Cooperativismo e desenvolvimento econômico em um cenário de mudanças climáticas

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Inúmeros eventos cotidianos, que têm ocorrido com maior frequência e intensidade, tais como furacões, chuvas torrenciais e estiagens, apontam para as consequências da ação do homem. A explicação mais usual para as mudanças climáticas é o aquecimento global. Este fenômeno tem se intensificado a partir da segunda metade do século XX. Tal aquecimento é uma decorrência da alteração (promovida pela ação do homem), da composição química da atmosfera, mediante a liberação de gases do efeito estufa, especialmente o gás carbônico (CO2). É importante lembrar que esses gases sempre existiram na natureza, mas a ação antrópica amplia a concentração deles na atmosfera e isso leva à intensificação desse aquecimento.

O principal fator de aceleração do aquecimento é a queima de combustíveis fósseis (petróleo e seus derivados, carvão e gás natural). Soma-se a isso o avanço do desmatamento e das queimadas, que contribuem para a elevação da temperatura do planeta. Os gases que produzem tal fenômeno se alastram com a circulação geral dos ventos e se espalham por todo o globo. Assim, mesmo que o Brasil, por exemplo, implante uma série de políticas e práticas que visem reduzir a emissão desses gases de efeito estufa, se não houver uma orquestração global, o esforço será insuficiente.

As consequências de tais mudanças no clima são diversas. Vamos nos restringir à aná- lise de alguns efeitos sobre o desenvolvimento econômico. Primeiramente, as modificações na temperatura têm gerado um aumento de chuvas torrenciais e tornados, em partes específicas do mundo, muitas delas sem histó- rico anterior de ocorrência de tais fenômenos. O impacto disso sobre a estrutura urbana é recorrente. Inundações, rompimentos de barragens, destruição de linhas de energia elétrica são alguns dos efeitos mais corriqueiros, e as consequências econômicas são evidentes. As alterações climáticas e seus impactos sobre o desenvolvimento econômico não são mais hipóteses científicas; elas já são uma realidade em diversas partes do mundo. Vários estudos publicados nos últimos 15 anos demonstram a influência sobre a produção de alimentos, o zoneamento urbano e até a saúde pública. Estudos produzidos pela Universidade de São Paulo (USP) apontam para a diminuição média de 15% ao ano na produtividade do trigo, do milho e da soja, três das principais culturas brasileiras, no período de 2010 a 2060. No ano passado, o agronegó- cio brasileiro representou 23% do PIB, equivalente a R$ 1,1 triPor Cláudio Farias Diretor de Desenvolvimento Institucional do IFRS – Campus Porto Alegre lhão. Parte significativa da produção primária tem como destino a exportação, ou seja, é uma importante fonte de ingressos de divisas externas para o Brasil. A diminuição da produção de grãos afetará significativamente o resultado das contas públicas do País, agravando ainda mais as condições macroeconômicas vivenciadas na atualidade.

Diante desse cenário, o cooperativismo pode ser encarado como uma alternativa aos processos que promovem as alterações climáticas? A resposta certamente é positiva. O cooperativismo, em seus esteios básicos, defende a ação colaborativa entre os cooperados. Muitas cooperativas agrícolas, em sua constituição, possuem o germe do desenvolvimento sustentável, ou seja, a preocupação de que os seus projetos estejam alinhados em seus aspectos sociais, econômicos e ambientais. As iniciativas cooperativistas em prol de um desenvolvimento sustentável estão presentes em todo o País. Podem-se citar os inúmeros projetos de recuperação de nascentes e matas ciliares, com o intuito de evitar a erosão do solo e problemas consequentes deste processo. Os investimentos em agroenergia, com a oferta ao mercado de biodiesel, é outra forma de contribuição do movimento cooperativista. Também, ações de educação ambiental junto a cooperados, empregados, familiares e comunidades, se apresentam como ações concretas rumo a uma sociedade de produção e consumo mais sustentável.

Importante é considerar que as soluções para tais problemas climáticos não são simplistas, nem se resolvem no curto prazo, com a ação exclusiva das cooperativas. Há necessidade de se implementar um conjunto de mudanças mais profundas nos sistemas econômicos, em parte decorrentes de modifica- ções em escalas de valores, nas relações socioeconômicas e até mesmo nas inter-relações individuais. Para além da diminuição dos impactos ambientais, a sociedade terá de aprender a se adaptar às alterações climáticas que já estão em curso. As mudanças, promovidas pela ação do homem, impacta todas as áreas da sociabilidade humana, afetando diretamente o desenvolvimento econômico. E essa situação impõe um repensar, inclusive, do que vem a ser desenvolvimento, sob o risco de se colocar em xeque a sobrevivência das futuras gerações. Nesse sentido, ampliar o papel das cooperativas, tanto na produção quanto no consumo, pode ser uma das medidas imediatas de enfrentamento às alterações climáticas e seus efeitos sobre as sociedades humanas.

 

Por Cláudio Farias

Diretor de Desenvolvimento Institucional do IFRS – Campus Porto Alegre

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