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Volto de Ribeirão Preto (SP) onde fui visitar a 21ª Agrishow. Para organizadores e patrocinadores, “mais do que uma feira de negócios, palco do sucesso do agronegócio brasileiro”. Para nossas folhas e telas cotidianas, oportunidade de mostrar o viés boiadeiro dos principais candidatos ao Planalto.

É mesmo grande a Feira. Muito grande. Imensa. Mais de 400 mil m² de área, 800 expositores, 100 hectares com experimentos de campo.

Se você não for convidado de algum expositor, a grandeza se estende aos 30 reais para estacionar veículos em espaços sem identificação e mais 30 reais por pessoa para ingresso.

Chegar a locais de seu interesse levará o tempo permitido por médicos a cardiopatas, diabéticos, próximos dos 70 anos de idade, em dias de calor e forte sol. Se existe GPS com tal aplicativo, arrisquei a vida sem precisar.

Inevitável o pensamento de estarmos num país que não aprende a crescer e incluir pessoas ao consumo de forma razoavelmente ordenada.

Mas, vamos à Feira. Seu conteúdo alentará os menos próximos da agropecuária e reforçará o ufanismo de quem acredita ser o agronegócio a salvação desta pátria.

Atenção. Quem lá expõe não é a agropecuária, mas sim quem produz e vende para ela. Empresas de insumos, maquinários, equipamentos, aí incluídos botas, chapéus, revistas e helicópteros.

Outra atenção. Estando lá, difícil imaginar a agricultura fora do rumo tomado há meio século, quando a fronteira se expandiu em propriedades de grande extensão, levando tudo o que encontrava pela frente. Fossem florestas, bichos ou homens e mulheres.

Não me perguntem se tais produtores rurais sabiam aonde chegariam. Caso sim, nutriam fé cega no mercado e faca amolada no pescoço do Tesouro Nacional.

Creio não errar datando céus plúmbeos até os primeiros anos deste milênio. Hoje em dia, se de brigadeiro o céu ainda não é, o voo da atividade corre com bom tempo, sobretudo se o desanuvio depender do Congresso Nacional.

Inegável essas etapas terem sido vencidas não só com ajuda governamental, demanda alta e preços favoráveis das commodities, mas também em base a inovações tecnológicas formidáveis.

Sem elas o País não seria a potência agropecuária produtora e exportadora que é.

Trouxe perdas a biomas e campesinos (desculpe o termo, senadora)? Sem dúvida. Muitas. Mas os “monstros” que vemos hoje são menos assustadores do que aqueles de 20 anos atrás.

Há maior cuidado e em suas concepções participam, mesmo em pequenos detalhes, cautelas com devastações profundas, não mais bem aceitas pela sociedade.

Isso resolve? Junto a fragmentos de consciência, legislação apurada e fiscalização eficiente, amenizam.

Entre elas, cito a agricultura de precisão, já chamada de a próxima revolução agrícola, se ampliando em proporção similar à da irrigação, 20 anos atrás.

Tudo começou para racionalizar a adubação. Não mais doses homogêneas para toda a extensão da área, que resultava uso acima da necessidade nutricional das culturas.

Nos primeiros anos da década de 1990, eu trabalha numa empresa de fertilizantes. Literatura vinda do exterior divulgava a boa nova. Enviamos um competente agrônomo a uma feira nos EUA.

Na sua volta, novidades emocionantes. Softwares instalados em grandes máquinas, equipadas com GPS, ao mesmo tempo, faziam a análise de solo e forneciam as necessidades nutricionais reais de cada lote. Resultado: economia de adubo.

Tiro no pé? Não. Caminho irreversível que em algum momento aqui chegaria.

Muita areia pra nossa adubadeirazinha? Sim.

Negócio para grandes players, como New Holland, AGCO, John Deere, ou quem a eles se juntassem, hoje, Monsanto, Bayer, Dow Chemical, Du Pont.

Restou-nos chupar dedos.

Hoje em dia, embora esse seja o grande apelo, ainda se quer mais. Sementes com chips que determinam variedades adequadas a cada região, por exemplo. Ajustes de profundidade na semeadura ou na distância entre as linhas de plantio.

Tudo detectado e receitado pelas grandes empresas, através de registros altamente detalhados de topografia, históricos climáticos e de desempenho, trariam grande diferença no faturamento da safra.

Nos EUA está sendo tratado por “Big Data”, coleta de dados através da internet por essas grandes empresas para plantio orientado a agricultores que aceitem tais receitas e não temam perda de poder decisório.

É aí que vem o nó. Sem garantia de privacidade das informações, aquele quintal poderia não mais ser seu e você ficaria refém de gente nem sempre muito bondosa.

Volto um dia ao assunto, mas já foi mais simples cuidar desse “mundão véio que Deus nos deu”.
registrado em: Agricultura

Por Rui Daher – www.cartacapital.com.br

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