Ayrton Avila da Cruz 
Professor Mestre em Educação nas Ciências
Diretor da Escola Técnica Estadual Cruzeiro do Sul

 

O clima sempre influenciou de maneira significativa o processo produtivo e está diretamente ligado ao sucesso ou ao fracasso das colheitas dos agricultores mundo afora. A humanidade depende da produção de alimentos para continuar evoluindo e povoando a terra. Por isso, as secas prolongadas e as chuvas em excesso sempre estiveram presentes nas preocupações dos agricultores, que são os responsáveis por produzir alimentos para todos.

Ultimamente, as mudanças no clima são pauta em todos os cantos do mundo. Muitos não acreditam e até zombam do que é posto. Mas a realidade é que essas mudanças tão anunciadas e que pareciam tão distantes chegaram e já estão acontecendo. Estamos com um outro clima. No sul do Brasil passamos por duas secas em sequência, que trouxeram sérios problemas para as comunidades produtoras e nos fez refletir e entender que a Natureza continua no comando. Na atualidade, as chuvas se intensificaram de uma forma inédita causando transtornos para populações em locais que jamais poderíamos imaginar que fossem atingidos.

Nas escolas agrícolas do RS temos a tradição de formar Técnicos Agrícolas comprometidos com o processo produtivo de alimentos e com o desenvolvimento da aplicação de técnicas que tragam possibilidades produtivas para o agricultor no campo. Onde o produtor rural se sinta seguro em produzir valendo-se de práticas agrícolas sustentáveis e que estas práticas de alguma forma já tenham sido experimentadas nos espaços didáticos, de produção, aprendizagem e de pesquisa da escola agrícola.

Segundo Leonardo Boff (2014), “O desenvolvimento é um processo econômico, social, cultural e político abrangente que visa ao constante melhoramento do bem-estar de toda a população e de cada indivíduo, na base de sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na justa distribuição dos benefícios resultantes dele”. Diante disso, como instituição formadora de jovens rurais, a escola agrícola está no centro do processo de busca de alternativas para este novo normal climático. Debater, dialogar e buscar entender a natureza com a participação dos jovens estudantes, entendemos ser o ponto principal na busca de uma agricultura sustentável.

Ser sustentável significa produzir respeitando o ambiente e minimizando os impactos, no pensamento que a terra precisa ser tratada com respeito e admiração por que é o nosso único lar. Nesse sentido, a sustentabilidade é, em termos ecológicos, tudo o que a Terra faz para que um ecossistema não decaia e se arruíne. Esta diligência implica que a Terra e os biomas tenham condições não apenas para conservar-se assim como são, mas também que possam prosperar, fortalecer-se e coevoluir” (BOFF, 2014).

Portanto, as mudanças climáticas que estão acontecendo trazem um desafio importante para o centro do debate pedagógico do processo formativo de jovens técnicos agrícolas. A atualização do currículo, com a necessidade da introdução do tema no fazer pedagógico da escola. Possibilitando que o jovem estudante possa refletir, buscar, pesquisar e apresentar alternativas viáveis para que o problema possa ser minimizado. Talvez, na atualidade, seja esta a principal missão das escolas agrícolas. 

 

Publicado na revista Letras da Terra – Ed. 67 – Novembro 2023