Estiagem impacta nos setores produtivos das escolas agrícolas gaúchas

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A estiagem que o Rio Grande do Sul vem sofrendo nos últimos três anos provoca não somente impactos econômicos, mas também pedagógicos. Boa parte da última safra foi perdida, em especial a cultura do milho que serve de base para a alimentação dos animais que geram renda tanto para os produtores rurais quanto para os diversos setores de pecuária das escolas agrícolas.

O presidente da Associação Gaúcha de Professores Técnicos de Ensino Agrícola (Agptea), Fritz Roloff, destaca que as Unidades Educativas de Produção (UEPs) destas instituições de ensino, que trabalham com bovinos de corte e de leite, aves, suínos, cunicultura e demais criações, foram muito prejudicadas pela falta de chuva. “As escolas foram impactadas fortemente por estas estiagens, uma vez que possuem em seus laboratórios extensões de terra onde são realizados os experimentos agrícolas e pecuários”, pontua.

Um exemplo deste cenário é a Escola Técnica Estadual Cruzeiro do Sul, localizada em São Luiz Gonzaga. De acordo com o diretor Ayrton Avila da Cruz, a forte seca que atinge a Região das Missões afetou diretamente os setores de aprendizagem de produção da escola, que tem 289 hectares de terra. “Nós temos uma área de campo nativo que envolve várzeas e que está seca. Com isso, o nosso gado vem sofrendo muito com a falta de alimentação”, informa, salientando, ainda, as perdas na lavoura de milho. “Colhemos 32 sacos por hectare e isso não atende a demanda da escola para alimentação dos animais porque utilizamos em torno de 100 a 130 sacos de milho por mês para manter os setores de avicultura, ovinos, suínos e bovinos de leite”, lembra.

Sobre a soja, o diretor informa que a escola tem uma área de 115 hectares e não sabe o que vai conseguir colher. “Na seca passada, colhemos 4,3 sacos de soja por hectare numa área de 110 hectares. Este ano, apesar de uma área maior, achamos que se for possível colher, será algo em torno de 2 sacos por hectare. A crise é muito forte na escola”, coloca, dizendo que o modo sobrevivência foi acionado.

Segundo Cruz, a gestão da propriedade rural da escola, neste momento, mudou o enfoque, caindo um pouco a questão da pesquisa e da produção para manter os setores funcionando. “Como instituição de ensino, temos a função de contribuir para achar alternativas, discutir, problematizar essa situação com os nossos estudantes que também são filhos de agricultores e que sofrem em suas propriedades com a falta de chuva”, enfatiza.

O presidente da Agptea reforça que nestes tempos difíceis, nos quais a pandemia também se insere, será necessário um tempo para a recuperação dos setores produtivos das escolas agrícolas, assim como para a aprendizagem. “Muitas lacunas certamente ficaram e, infelizmente, temos verificado que a mantenedora no caso das escolas estaduais pouco tem feito para minimizar esses efeitos. O Rio Grande do Sul por ser um estado que tem na sua matriz agrícola uma importante fonte de captação de recursos através dos seus impostos, esquece de que precisa de pessoas, especialmente da educação profissional, para alavancar o conhecimento no campo”, observa.

Roloff ressalta que a partir do momento que não se centra uma educação nos múltiplos saberes, realmente importantes para o homem do campo, a educação agrícola com certeza está estagnada. “Esperamos sinceramente que o poder público ouça a sociedade, as escolas e, principalmente, as direções dos setores técnicos, para que possam haver intervenções fortes no sentido de alavancar esse processo e criar cada vez mais qualidade. E a Agptea se coloca como parceira para contribuir em vários aspectos e ajudar a agregar mais valor ao processo pedagógico”, finaliza.

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