Ensino técnico no novo normal deve ser discutido e repensado

Homenagem ao Professor Carlos Fernando Oliveira da Silva
27 de novembro de 2020
Agptea inicia tratativas para abertura de curso em Ciências Agrárias no IFFar
1 de dezembro de 2020
Homenagem ao Professor Carlos Fernando Oliveira da Silva
27 de novembro de 2020
Agptea inicia tratativas para abertura de curso em Ciências Agrárias no IFFar
1 de dezembro de 2020

Os paradigmas do ensino no novo normal foram destacados no último dia do 35º Encontro Estadual de Professores e 8º Congresso Nacional de Ensino Agrícola, promovido pela Associação Gaúcha de Professores Técnicos de Ensino Agrícola (Agptea) em parceria com o Programa de Inovação Pedagógica (Proipe), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na abertura, o presidente da Agptea, Fritz Roloff, destacou que a pandemia ensinou que mesmo aqueles mais resistentes à tecnologia precisam abrir-se ao conhecimento, pois os processos de aprendizagem são para toda a vida.

Em sua intervenção, o coordenador Executivo do Proipe, Vilson Flores dos Santos, dividiu em três momentos a evolução da aprendizagem técnica: até fevereiro, antes da chegada da pandemia causada pelo Coronavírus no Brasil, durante o isolamento social e o futuro do ensino agrícola. “Até fevereiro de 2020 nós vivemos em um paradigma social que era uma corrida constante em busca especialmente do tempo. Esse paradigma nos levava a uma acelerada busca da vida no sentido de termos cada vez mais. Neste contexto, na escola, iríamos iniciar as atitudes de normalidade e conformismo diante dos processos que favorecem a intolerância social e a injustiça. Alguém definiu isso como um comportamento que vamos nos acostumando com os acontecimentos”, destacou.

Com a chegada da pandemia, houve uma transformação conforme o especialista. “Até então, existia mais um conceito de formação técnica para trabalhar o agronegócio do que ter aquele olhar sobre o ambiente e a qualidade alimentar. Mas, hoje, já se visualiza que começam a acontecer algumas mudanças no sentido desse novo olhar”, salientou, lembrando que houve uma necessidade de cuidarmos uns dos outros. “Esse processo também chegou ao cuidado com o ambiente. Nunca os governantes e os gestores foram tão solicitados a imporem processos regulatórios de convivência. E isto aconteceu em todo o mundo, o que nos deu uma certeza de quem nós somos e como precisamos uns dos outros para viver em sociedade”, afirmou.

Santos também avaliou que para o futuro as escolas precisam se ressignificar, pois os processos adotados até a pandemia não podem mais ser os mesmos nesta transição. “Após este período pandêmico precisamos ver para onde isto vai nos levar e quando vai nos levar. E qual a nossa preparação como formadores técnicos para esta nova realidade. Todos nós estamos aprendendo, mas precisamos sentar e discutir. Precisamos ser grandes para fazer isto, aceitar as mudanças e construir a coletividade. A escola precisa da sua comunidade”, afirmou.

O coordenador executivo do Proipe lembrou também que com a virtualidade do processo pedagógico hoje a família está dentro da sala de aula. Mas também reforçou que esse processo remoto traz alguns senões negativos como, por exemplo, a exclusão social, pois muitos desses alunos, ou por morar no interior ou por uma condição social e econômica, não têm acesso a estas ferramentas tecnológicas. “Se educar, como diz Paulo Freire, é um ato de amor, ser educador é um ato de amor profundo. E ser educador técnico e formador de pessoas que vão contribuir com a produção de alimentos saudáveis também é um ato de amor profundo. Cada vez que uma família tem um alimento saudável para colocar na mesa, estamos praticando um ato de amor. Precisamos construir o mundo onde a empatia esteja presente”, concluiu.

A coordenadora pedagógica do Proipe, professora doutora Anna Christine Ferreira Kist, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação e Território (GPET), da UFSM, e do Grupo de Pesquisa em Ensino de Geografia e Educação Ambiental, da Universidade de Londrina, também falou na última noite do Encontro, trazendo uma reflexão sobre as novas perspectivas para a educação ambiental diante do quadro vivenciado hoje pela sociedade. “É necessário ter uma nova abordagem diante dos enfrentamentos que estamos vivendo, tanto na questão da pandemia quanto de uma crise civilizatória envolvendo valores e ética. Precisamos ter o compromisso ético de produzir alimentos saudáveis, que respeitem os limites da natureza”, afirmou.

Anna fez uma provocação perguntando para que serve o conhecimento, que tipo de educador os professores buscam ser. “Devemos tentar construir uma nova sociedade, restabelecer as nossas relações com as pessoas, com a natureza e com nós mesmos. E para isto, é necessário que tanto os técnicos, os professores ou as pessoas em formação, busquem este outro olhar para a educação”, respondeu, observando que neste contexto entram dois elementos essenciais que são a educação ambiental e a educação do campo. “Se busca hoje uma educação integral que trabalha o indivíduo em todas as suas potencialidades. É importante pensar em uma educação inclusiva, sustentável e que seja possível dialogar com todos os atores que estamos trabalhando, seja em propriedades, em escolas ou universidades, respeitando os conhecimentos tradicionais”. destacou.

Segundo a professora, hoje se entende que não é possível falar em educação sem falar na valorização da vida de todas as formas. Salientou que o conhecimento passado aos alunos não pode estar deslocado de questões relacionadas à vida. “Não adianta estar em uma escola técnica ensinando a produzir e, ao mesmo tempo, desrespeitando o outro. Quantas pessoas hoje morrem por questões de racismo, de gênero e pelo feminicídio. O Brasil também é um país que tem uma grande desigualdade social”, comentou.

O presidente da Agptea encerrou o evento de cinco dias agradecendo a todos os envolvidos e afirmando que a lógica do conhecimento foi rompida “porque nós, hoje, não falamos mais para quatro paredes, mas para o universo”. Colocou, ainda, que as escolas agrícolas têm a tarefa de, além de discutirem os paradigmas curriculares, também pensarem no lado econômico. “Precisamos começar a preparar gestores não para o agronegócio, mas para a pequena propriedade, assim como para a valorização do cooperativismo.

Roloff afirmou que a Agptea tem uma lógica definida, não negando o agronegócio, porque sabe da importância econômica que ele tem no contexto nacional, mas defendendo uma tecnologia limpa, onde o agricultor da pequena propriedade possa produzir de forma saudável. “Esta é a grande lógica que temos de repensar”, concluiu.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *